A campainha toca. Mas levantar-se do sofá parecia um
crime. A TV ligada no canal que exibia aquela programação debochada de início
de noite de domingo. Cerveja e controle remoto ao alcance da mão. Vestígios de fast-food e
salgadinhos baratos sobre a mesa de centro, dividindo o espaço apertado com o
cinzeiro – e
os pés, que descansavam ali em cima.
Primeiro um palavrão sussurrado. Depois um grito mal
humorado: – Quem
é?
Nenhuma resposta veio do
outro lado, o que só fez aumentar a irritação. Nem o apartamento, nem o humor,
estavam adequados para receber visitantes inesperados.
A campainha toca novamente.
Palavrão em voz alta, seguido de uma pergunta indignada: – Será que não
dá pra esperar um minuto?
Respira fundo e esfrega os
olhos, mas o único cheiro que sente é o da própria ressaca. Tira os pés da mesa
de centro, fica de pé. Tanto tempo parado na mesma posição que precisou
espreguiçar-se, numa tentativa inútil de acordar os músculos doloridos. Caminha
até a porta e abre.
– O
que poderia ser tão importante que interrompeu o meu... – a pergunta
morre na garganta.
Era ela. A causadora da
desordem: no apartamento e no coração.
– Você
está bem? – pergunta,
analisando-o.
– Você
se importa? – retruca
ele, sob efeito do álcool.
– Pra
ser sincera, não mais – empurra-o para o lado, entra no apartamento – Só apareci
para pegar o restante das minhas coisas.
Aquelas palavras doeram.
Ele engoliu seco, sentindo um amargo que era da cerveja, mas pensou que fosse
do arrependimento.
Ela passeou pelo
apartamento com seu andar dançante, pegou algumas coisas no meio da bagunça e
não fez sequer comentário sobre o mal estado daquele lugar. Ele assistia inerte
e boquiaberto ao momento em que seu pior pesadelo estava se realizando.
Antes de ir embora de vez,
ela perguntou: – Estou esquecendo alguma coisa?
Ele sentiu vontade de
dizer que sim: “Sim, está esquecendo a mim. Leve-me contigo!” Quis implorar por
uma segunda, talvez terceira ou centésima chance. Pensou em prometer melhorar,
mas sabia que já quebrara esse juramento antes. Desejou que ela percebesse que
finalmente tinha aprendido a lição – mas será
que isso era verdade? Ponderou sobre o que dizer. Em um milésimo de segundo,
decidiu: talvez rápido demais. E a resposta foi: – Não.
Eu achei essa post fantástico, mas na mesma hora típico de um homem, tanto em séries quanto em filmes... Homens largados nos sofás porque fora abandonados pela mulher, ou porque teve alguma decepção amorosa... Eu te conheço e sei que você é super inteligente e possui um potencial inacreditável para a criar coisas inéditas, esse foi a primeira vez que eu leio o seu blog, e simplismente amei esse post.
ResponderExcluirEle é rico em detalhes e é cheio de adjetivos que tornam o texto rico. ME faz ter vontade de ler, vontade de conhecer os pensamentos e sentimentos escondidos por trás dele.
Melhor que isso impossivel, mas sei que vc ainda pode me surpreender... Aguardo mais postagens...
Um abraço... Seu mais novo leitor anônimo -ME.
Antes de mais nada, agradeço muito pela paciência de ler o Infinita Calmaria e pelo belo comentário. Gostaria de argumentar, se me permite, que a parte inicial do texto foi apenas uma ilustração para introduzir o leitor ao cenário do conto. A "bagunça" onde se encontra o homem, simboliza a confusão de sentimentos que o mesmo tem dentro dele. O auge do texto, na verdade, é o último parágrafo, a partir do momento em que a mulher pergunta se está esquecendo alguma coisa. Mas você provavelmente concordará comigo que não teria sentido colocar esse diálogo isolado, sem uma introdução aos acontecimentos que o precederam.
ExcluirEnfim, espero poder de fato surpreendê-lo nas próximas postagens. E, finalizando, digo que sua postagem anônima aguçou a minha curiosidade :)
Att.
Larissa.
acho que não tenho como arriscar um comentário mais especifico a qualidade por me faltar experiencia nisso, mas o texto foi muito bem escrito, como todos os outros, detalhado, mas não de forma geral e enfadonha, de certo modo que instiga o leitor a continuar lendo para saber o desfecho, se fosse comparar a algum estilo conhecido eu diria que você me faz lembrar os textos de Dan Brown, principalmente quando comparo seu estilo de escrita ao dele no livro "ponto de impacto", com ótimos detalhes, mas só o suficiente para tornar a leitura mais interessante!
ResponderExcluirParabéns pelo excelente blog...
att: alguem da familia XD
Que honra ser comparada a um mestre da literatura como o Dan Brown! Muito gentil de sua parte fazer essa alusão. Acho incrível o que ele consegue fazer... Intrigante a capacidade que tem de escrever uma narrativa completa de fatos que aconteceram em um único dia, como em "O símbolo perdido", por exemplo. Consegue escrever 500 páginas de um best seller internacional que acontece em um período de 24h: muito incrível! Nunca li "Ponto de impacto", que você mencionou, mas vindo do Dan Brown, com certeza é brilhante. E também não li "Fortaleza digital" - não por falta de vontade, o problema é oportunidade mesmo (e ainda mais agora, com a faculdade monopolizando minha leitura. Ficou ainda mais difícil encontrar tempo para os livros).
ExcluirAgradeço os parabéns,
Larissa.
PS: Alguém da família? Haha, agora estou ainda mais curiosa!