quinta-feira, 27 de dezembro de 2012


Era uma criança.
Então cresceu.
A barba cresceu; cresceram-lhe desejos, cresceram-lhe sonhos, cresceram-lhe saudades. Exceto  as ideias. Essas, ao contrário, diminuíram. Porque há gente nesse mundo que não sabe mais sonhar.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Uma seleção com os textos favoritos

Com o fim de 2012 chegando, o primeiro ano do Infinita Calmaria  que tão rapidamente alcançou uma grande quantidade pessoas que eu jamais imaginaria –, resolvi fazer uma seleção com os meus textos favoritos aqui do blog! Dos 146 textos já postados, aqui estão os 15 que achei merecedores de uma "repostagem", por serem meus favoritos (a seleção foi difícil, pois você bem devem saber que autores geralmente tem uma relação de amor e ódio muito complexa com relação aos próprios escritos). Os textos estão classificados por ordem de preferência, e você poderá lê-lo (ou relê-lo) clicando no títulos em destaque. Há ainda um pequeno trecho para relembrarem!
Ficam aqui meus votos de um feliz Natal e ótimo Ano Novo a todos os leitores, além de sinceros agradecimentos pelo apoio! Abraços a todos! 


Quisera eu, desesperada e aflita, afugentar esses malditos monstros dos meus pensamentos. Tentei em vão mandá-los para longe, de infindáveis e inúteis maneiras. Não se foram.

2. Adeus
 “Não posso explicar a bruma que é, encarar a escrivaninha desnuda sem a sua presença. (...) Mas antes eu já chegara a idear, porém, que a falta sua na minha vida seria tão francamente suportável.”

Eis aqui uma sonhadora incurável, incapaz de encontrar motivos de desistência nos amargos imprevistos pelo caminho. Meu coração, poeta rejeitado, ainda possui alguma inspiração.”

Jamais conseguirei, porém, fazer de conta. Até de conta não consigo parar de sentir a realidade; essa realidade nossa, que devaneio sozinha, sem deixar você saber.”

“Como uma grande fogueira de madeiras apodrecidas, no meio de uma noite gélida de fracassos. (...) espaço à tristeza, sem me atrever a barrá-la. Talvez porque fosse bem vinda. Estive procurando desafetos, veja só: encontrei-os.”


A roupa preta em que me puseram quando acordei pela manhã já estava me zangando. E todos aqueles tios barrigudos e tias velhas e solteiras insistiam em dizer que eu tinha crescido muito. E que estava bonito. E que era uma pena o papai não poder ver-me crescer ainda mais.

Cortou os doces, os medos, as drogas, os livros e os pulsos. A faca afiada, o sangue vermelho no tapete branco: estava feito. Feito e perfeito, com os devidos dramas.

O motorista, do banco da frente, espiava-os pelo retrovisor de vez em quando, procurando maneiras de iniciar uma conversa  ainda que nas últimas duas tentativas, as respostas que obtivera foram meros 'hum' em diferentes entonações.”

Meus olhos frustrados deixaram de ver a saída dessa algazarra que é a realidade. Por um momento chego a até ser alérgica a batalhas infundadas e duelos ilusórios com um eu que existe dentro de mim e eu desconheço.”

Amou-a por muito tempo, seu coração à ela um dia pertenceu. Mas acordou no dia seguinte com a claridade entrando pela janela, sem amar mais.


1.  ocup(ação) 
2.  Eu, assim
3. Carta 2 

Das fronteiras imaginárias


Fiquei engasgada com a quantidade de coisas que quis dizer: todas elas se juntaram de uma vez em minha garganta, e acabei por não dizer nenhuma. Engoli-as junto à bebida gelada, depois acenei com a cabeça, pra não ser denunciada por minha voz esganiçada de quem comeu e quis cuspir. Tudo isso levou a uma variedade colorida de rancores, porque acho um grande nojo ter que recolher as migalhas do que um dia senti pra tentar reconstruir coisas para as quais já não dou a mínima. Dando de ombros, sigo em frente.
O fato é que avizinha-se uma falência múltipla das minhas emoção; e eu já não sei se as resultantes são contra ou a favor das decisões que tomei anteriormente. Quero salientar que tenho sobre as costas algumas incoerências e um gélido silêncio, que vem das minhas desconfianças fantasiosas.
É quase um fracasso ter que admitir que não perco nada em deixar a vida tomar os rumos que bem entender. Quero que o arrependimento, esse sentimento enfadonho e pestilento, jamais tome sequer um instante de mim. E que cada batimento cardíaco inspire em mim um novo desafio. Respiro um alívio formidável, tão somente por saber que preferi dar voz à melodiosa canção tamborilante do meu coração, em detrimento dos descompassos da razão.



sábado, 22 de dezembro de 2012

Me deixa


Deixa a chuva me guardar, quero que a água afaste as tristezas e desfaça os desertos. Deixa os oásis brotarem, deixa. Deixa o vento me levar até as mágoas ficarem longe demais para o alcance da lembrança.
Deixa eu ficar sem ar um pouco, pra respirar fundo novamente. Deixa eu perder a conta das risadas e poder contar ao mundo sobre elas. Deixa eu ficar cansada, deixa. Deixa eu ter o prazer de repousar em meu descanso sereno; e voltar pra rotina quando for a hora certa.
Deixa eu ficar sozinha, quero transbordar os cálices que estão pela metade. Deixa eu deixar de ser só um pouquinho, deixa. Deixa meu muito ser tanto, que derrama. Deixa meus dilemas se inverterem. Deixa eu me cobrar tanto, até ter que pagar à prazo.
Deixa meu autogoverno ser soberano de mim. Deixa eu me entender com meus desagrados. Deixa os exércitos irem pra guerra, deixa. Deixa eu lutar com tudo o que me convém. Deixa eu tocar a vida com as notas que quiser. Deixa o desapego ir desapegando de mim, até que me console uma ternura sem fim.
Deixa o depois ser agora. Deixa eu me render diante da felicidade. Deixa eu desdizer o que já disse, pra deixar as coisas mais bonitas. Deixa eu sonhar até depois do limite com as impossibilidades, deixa. Deixa eu enfeitar a realidade com ficção.
Deixa, deixa sim. Deixa, que agora eu quero menos dos outros: mais de mim.


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012




Juro que vou acabar com todas as ambiguidades com as quais me acostumei. E vou fazer de conta que minha inconsciente ideia de sensatez simplesmente deixou de existir, pra permitir que fale a voz do meu coração. O que é muito leviano me assusta. Do meu jeito torto, vou concertar as coisas devagarinho. Segunda-feira eu começo.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

2/4


Nunca me contentei com metades. De tentar esconder do mundo que meu orgulho é meramente um amontoado de inseguranças camufladas, acabei por me permitir não ser eu mesma. A única resignação que acabo possuindo, no fim da minha peça teatral maltrapilhamente encenada, é a ideia incessante de que metade de mim está errada. E só dois quartos de sanidade não me é suficiente.
Tentei trancar os eufemismos na gaveta; mas o franco marasmo que o cotidiano se tornou obrigou-me a sair em busca da chave que os livraria de seus cárceres.
No fim do dia, sinto como se exércitos avançassem dentro de mim. Luto contra mim mesma numa guerra que espalha as vísceras do que eu fui pelo campo de batalha; e estas se juntam de novo e de novo, cada vez de uma maneira diferente. E eu, seguindo suas dialéticas confusas, sigo também mudando. E a natureza inefável do meu excesso de egoísmo se prova a cada dia mais forte. Um dia implorei pra não ficar sozinha. Agora – que irônico! , sinto falta da solidão.



sábado, 1 de dezembro de 2012

Carta 3

Algum-lugar-por aí, 01 de dezembro de 2012

Meu caro,

Tua voz me chamou. E todos os sentimentos que trancafiei emergiram de dentro de mim, mesmo depois de manifestar abertamente que jamais voltaria a libertá-los. Minha eiva maior é que, com uma constância irritante, volto a criar ilusões de realidades que foram: não são mais. E hoje, por esse motivo e alguns outros, escrevo a ti pela quinta ou sexta “última vez”; com a única intenção de reafirmar minhas ilusões da verdade, outrora tão necessitadas de camuflagens e disfarces para as centenas de enganos que cometi a nosso respeito.
Dos meus desapegos, você foi aquele do qual nunca fui capaz de me desfazer. Cheguei um dia a acreditar que o seu sorriso torto e puramente irônico ao segurar a minha mão jamais passaria de uma lembrança nostálgica e desbotada, como todos os momentos que gastei em sua companhia ambígua, tão agradável e tão enervante. Consumida pela saudade, me obriguei a permitir que seguíssemos por caminhos distintos; abrigando-me nos braços da esperança de que um dia teríamos mais uma chance para concertar os erros que cometemos. E quem sabe até enfrentar as desventuras que nos torturavam num dia sim, outro também.
Sempre muito práticos, economizando romantismo, escrevemos nossa história dentro das possibilidades do nosso excesso de excentricismo. Tivemos tantos pontos finais que acabaram virando reticências. E nossas centenas de casos, marcado por seguidas recusas e caprichos, são tão somente o espelho de um sentimento que simplesmente não morreu. Juntos, no passado, entre doses baratas e almas vazias, acabamos entrelaçando nossos olhares e íntimos de um jeito desordenado e confuso. E quando o acaso nos permitiu um reencontro depois de todos esses anos, com a mesma euforia de antes, envolvemo-nos nos braços um do outro por uma eternidade que durou quase um minuto. O mesmo arrepio; os mesmos pés sem chão. Você e eu, porém, nos tornamos ainda mais inexatos e diferentes, depois do descumprimento de todas as promessas que fizemos um ao outro.
Eu juro! Juro que ao ver você eu quis alardear minha fúria contra sua imutável expressão de tédio, sua voz mansa com sotaque sulista, sua despreocupação, sua aparência tão minuciosamente planejada para arrancar desejos meus, e todas as suas centenas de manias. Não consegui. Justamente por saber que, mesmo depois das mudanças, você e eu sempre voltamos a ser os mesmos um para o outro. É sempre com uma ira contida que nos amamos. E, ainda assim, encontramos tempo para nos odiar. Talvez os anos passem outra vez, mas jamais deixemos de pertencer um ao outro.
Tua voz me chamou. Mas só tive certeza de que era você quando meus olhos incrédulos encontraram os seus: imutavelmente sonolentos, mas cheios de um brilho terno que eu apenas, ninguém mais, poderia discernir. Só nós dois podemos cuidar de nossas próprias fantasias, porque não existe maior imprudência que a covardia de não aproveitar uma última oportunidade. Quando tudo terminar novamente, por favor, feche a porta ao sair de vez da minha vida.