segunda-feira, 30 de abril de 2012

Incontrolável



Esses conjunto dos teus olhos feiticeiros, sorriso de faz de conta, cheiro de malandragem e toque inocente hipnotiza-me com uma sutileza incomum. Você chega brisa, vira vento forte, logo mais é furacão. E quando dou por mim, já venceu por desistência – não tenho perspectivas de resistir. Francamente: te odeio com todo meu amor.
Sempre acreditei na teoria de que quanto mais imprevisível, mais interessante. Pra ser sincera, isso me fascina: o tempo passando veloz e eu ainda não aprendi a prever o próximo passo teu. Minhas interpretações sempre acabam precisando de frequentes correções. Sem perceber, parei de criar expectativas, porque você tem uma mania excêntrica de superá-las.
Depois de todos os seus defeitos, os seus detalhes, os seus jeitos e os seus exageros: eu continuo me apaixonando por você. Perdi totalmente o controle, foi isso. E no fim das contas, admito: eu gosto desse gosto que você tem por me manter intrigada...

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Olhe nos meus olhos


Olhe para mim e diga o que vê. Olhe nos meus olhos e enxergue minha alma. E depois, se puder, por favor, diga-me o que você vê. Sonhos impossíveis? Medos contidos? Verdades escondidas? Eu peço que me diga com franqueza.
Com o perdão da palavra, sinceramente não sei mais viver dentro de todo esse mistério. Estou exausta e ainda não é nem o começo. Estou desanimada e nem descobri os motivos de tudo isso. É que há tantas coisas ocorrendo ao mesmo tempo que estou cançada e coberta de incertezas... De vez em quando a vida da gente fica morna – e não sabemos quando aconteceu ou quando voltará ao normal. Mas isso nos atinge, paralisa, entorpece.
Afinal, o que estou esperando? Será que eu continuo involuntariamente acreditando que o que eu espero da vida algum dia vai cair do céu pra mim? As coisas não são fáceis. A hora de acordar já passou e eu continuo aqui, relutante em perceber que muitas coisas não passaram de sonhos. Com uma frequência absurda, o medo nos impede de tentar; o conformismo nos impede de mudar; e o fracasso nos rouba nossas forças.
Eu me sinto tão pequena, tão sozinha, tão substituível... Muita coisa para de fazer sentido quando observadas de outro ângulo, mas essa nova perspectiva nem sempre é fácil de ser encontrada.

domingo, 15 de abril de 2012

Justificativas


Muita coisa parecia mais fácil algum tempo atrás. Mudar o mundo, escrecer um “feliz para sempre”, sonhar tão alto a ponto de ser absurdo... Pra ser bem sincera, não sinto saudade. Quando penso que poderia ter sido diferente, rapidamente percebo que não. E percebo que fui inocente ao pensar que sentimentos não são coisas fáceis de serem controladas. Eles simplesmente vem e vão: não batem na porta, não pedem licença. Primeiro alegram, depois confortam. E, em alguns casos, às vezes machucam.
Não é arrogância, é timidez. A pior parte de fugir de si mesmo é que mais cedo ou mais tarde, a gente acaba se encontrando. E quando isso acontece, percebemos que aquilo do que nos escondemos o tempo todo, também fugia de nós.
Passei a noite em claro. Estive deitada sob os cobertores por um longo tempo sem conseguir dormir. Acho que estava esperando um sonho bom entrar por minha janela. Eu gostaria de saber o que poderia acontecer se eu deixasse algumas de minhas bobagens para trás. Ainda não fui capaz de me livrar delas.
Amadurecer deveria significar que apredemos com os nossos erros, mas a verdade é que só aprendemos a justificá-los.

As palavras em mim

Sinais. Alguns enxergam, outros não. Apear de visíveis para o olhar de quem sabe ver, cada um os percebe de forma diferente. A maioria das pessoas consegue ser individualmente atenta e sensível às indicações dos próprios sentimentos. Ninguém quer ver o que não deseja. Mas vamos deixar uma coisa clara: eu quero ver. Eu sempre estou pronta, à procura de descobrir qual é o sentido de tudo isso. Desconfio, investigo, encontro.
Continuo sendo muito observadora e minimalista, isso funciona. Tomo notas mentais de tudo, tenho opinião formada sobre tudo e todos, sinto, vejo, experimento. Foi assim que aprendi a interpretar as pessoas, de forma a quase prever suas ações futuras. Um prenúncio, um presságio, uma intuição – parece tolo colocando nesses termos, mas às vezes acontece comigo. É apenas uma ilusão do saber, eu concordo. Mas  essa fantasia define parte de quem eu sou.
Todos os dias sinto a necessidade de esvaziar as palavras que transbordam dentro de mim. Mas sei que preciso ser grata por ter esse privilégio que é saber explicar. Sei lá de onde minhas palavras vêm, simplesmente aparecem quando acham conveniente. Acho que essa é a beleza da coisa. Pena que muitas pessoas ainda não entenderam que tudo está dentro da gente.

sábado, 14 de abril de 2012

Uma amiga


Saudade não tem explicação. Esse sentimento nos atinge quando o passado interfe no presente, nos fazendo pensar e sonhar com o futuro de uma maneira quase poética. A gente se pega lembrando de momentos felizes e momentos difíceis, rindo e chorando pela falta que tudo aquilo nos faz. Nós sentimos falta de sorrisos, de sentimentos, de fragrância, de palavras, de momentos –  mas hoje, particularmente, estou sentindo uma saudade imensa de uma companhia.
Vou confidenciar-lhes que ela apareceu na minha vida meio que instantaneamente. Digo isso porque não tenho a menor lembrança de quais foram as primeiras palavras que trocamos. Imagino que tenha sido um cumprimento cordial, talvez um adeus de despedida meramente por educação, um “bom dia” pouco caloroso ou algo nesse nível de formalidades. Mas acontece que por uma enorme bondade do destino, uma amizade inacreditável aconteceu a partir daí.
Amizade. O significado desse sentimento jamais caberá em palavras já inventadas pela espécie humana. Porque esse tipo específico do amor transcede todos os regulamentos e explicações plausíveis. Pra ser sincera, são poucas a pessoas que despertam em mim esse desejo de mantê-las por perto, de cuidar, de abraçar inesperadamente. São mais poucas ainda, as pessoas que me fazem querer fazê-las felizes, dividir momentos, experiências, pedir conselhos e oferecer consolo.
Mas houve uma vez em que uma garota apareceu e me entregou toda a sua amizade sem pedir nem mesmo um “obrigada” em troca. Era incrível o fato de que ela fazia questão de gostar até mesmo dos meus defeitos, rir do meu mal humor, divertir-se com as minhas ironias, compartilhar das minhas preferências, encorajar os meus sonhos e acreditar nas minhas capacidades. Nós nos tornamos tão próximas que a nossa última despedida ainda dói. Vê-la sorrido e acenando enquanto se distanciava, quando eu sei que queria chorar – e talvez tenha feito isso depois que eu já não podia mais olhar para ela –, me fez pensar em todas as coisas que passamos, em todos os momentos que dividimos, em todas as coisas que enfrentamos juntas. E, principalmente, em todas as palavras que dissemos e as que eu talvez nunca tenha dito, mesmo porque não eram necessárias. Eu quis ter dito mais um “Eu te amo”, para que ela não se esquecesse dessa verdade. Quis encorajá-la mais uma vez, entregar-lhe o meu apoio, para que jamais deixasse de acreditar na minha fidelidade. Quis me desculpar por algo que tenha feito sem querer. E, mais do que qualquer coisa, eu quis abraçá-la uma vez mais.
Ela pode estar distante, mas a nossa amizade jamais será diferente. Porque um dia eu conheci uma moça de olhos inteligentes que me fez ser mais feliz. 


(Dedicado à uma amiga que faz falta: Letícia S.)

Despedida

Estou agora escrevendo a nossa carta de despedida. Não, não vamos embora. Só vamos ser diferentes. Nós vamos nos tornar outras pessoas, deixar de ser o que todos esperam que sejamos. Máscaras, nunca mais – elas grudam à face. Simpatia, só com quem merece. Planos, apenas para um futuro que seja admissível. Acho que é melhor deixar subentendido que algumas promessas já não existem mais.
Num dia temos o infinito. E no outro ele acaba. Nós crescemos, amadurecemos – e nem nos damos conta da mudança. A realidade às vezes é demasiadamente difícil de ser encarada, interfere nos sonhos da gente. Faz com que o conformismo nos impeça de pensar diferente, de trasformar o mundo, de escrever um felizes para sempre. Mas tem tanta coisa terminando antes do fim...
A vida é basicamente assim: num dia a gente vê a claridade ao longe, no outro estamos debaixo dos holofotes. Tem sempre alguém para dizer o que queremos ouvir. Mas chega uma hora que descobrimos que certas palavras se perdem em seu próprio vazio - isso é o tipo de coisa que se aprende depois de passar tanto tempo dando ouvidos a promessas irrisórias.
Muitas pessoas procuram realizações em coisas que não valem a pena. E outras tantas desistiram de procurar. Eu, particularmente, quero felicidade – só isso. Quero dividir sorrisos e mutiplicar abraços. Quero acordar de manhã e sentir cheiro de vitória. Eu quero me despedir de mim, pra dar início a um novo eu.

Gosto de pessoas

Gosto de pessoas com um jeito de encarar a vida que não possa ser explicado facilmente. Gosto de pessoas que  tem fantasias, que tem objetivos e que não tem medo de ter sonhos imbecis de vez em quando. Gosto de pessoas que não gostam do que é comum. Gosto de pessoas que não sorriem por mera conveniência. Gosto de pessoas que não se deixam levar pelo que outras pessoas dizem, fazem ou pensam. Gosto de pessoas autênticas. Gosto de pessoas que sabem ser felizes sem fazer barulho, mas que também sabem alardear  de vez em quando. Gosto de pessoas que não temem crítica. Gosto de pessoas que tem o que dizer, mas que também sabem ficar caladas. Gosto de pessoas que pensam por si próprias e têm opiniões formadas. Gosto de pessoas que gostam de pessoas. Gosto de pessoas que têm bom gosto e têm respeito. Gosto de pessoas que falam o que vem na cabeça. Gosto de pessoas que demonstram o que sentem. Gosto de pessoas que gostam de abraçar. Gosto de pessoas que gostam de gostar. Gosto de pessoas. 

Aquela Guerra

Entristeça-se
mas não dê importância
Coisas poucas mudam tudo;
mas acorde de outro jeito
Sinta medo e não ame
Acredite e inflame
Sonhe

Refaça o que não fez
mas o tem em teoria.
Idealize o que não pode;
impossibilite o coração
Se preciso abra mão
de algo que aconteceu
Seja templo de você
Divinize seu saber
Pare. Pense. Raciocine.
Racionalize

Aprenda; e esconda se puder
Mas não fale, só se cala
e ouça até respiração
Inspire-se, mas não conte
Diminua seus conceitos
É o justo que funciona,
porém, acaba de todo jeito
Refaça


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Seus defeitos

Seu cheiro é de roupa limpa e mente suja. Mas eu passo quieta por você, você passa quieto por mim, e eu ainda assim escuto o barulho que a gente faz: barulho de corações batendo juntos em uma frequência anormal, e pensamentos trabalhando depressa pra encontrar um atalho para a nossa aproximação.
Como é que você pode ser tão errado e cheio de defeitos? Não é possível que você consiga ser tão censurável naturalmente. Estou dizendo isso porque hoje eu me peguei olhando pra essas coisas todas e te amando tanto, tanto, tanto... Como se nada mais no mundo fosse tão bonito, correto ou perfeito; porque perfeito é o que não tem mesmo nenhum cabimento. Você é autêntico e apaixonável, meu amor. E eu ainda sinto, mesmo depois de tanto tempo, uma paz serena e inexplicável ao observar-te.
De tanto te cuidar, acabei te descobrindo meio que sem querer. Simplesmente aprendendo coisas sobre você sem ter me esforçado para isso. E chegou um momento em que me vi te deixando livre para voar, e me amar simplesmente porque me ama – sem nenhum motivo maior explícito.  E eu concluí que somos apenas duas almas unidas, escandalosamente felizes por enfim termos nos encontrado.

Desabafo, algumas palavras desconexas e um bando de bobagens


O meu sentimento não teme a nada: vai em frente. Mesmo que a insegurança atravesse o caminho. Mesmo que algum problema acene ao longe e eu, por pura idiotice, acene de volta, preocupando-me com um futuro que ainda nem chegou – e talvez nem chegue realmente. Mesmo que os caminhos que já percorri  às vezes pareçam insuficientes e às vezes exacerbados. Mesmo que eu sinta vontade de parar, sentar e continuar imóvel até que tenha vontade de voltar à caminhada. Mesmo que eu não saiba como agir, como proceder, como elucidar.
Às vezes quero tanto, que acabo não tendo. Às vezes sonho tanto, que acabo não realizando. E, o que é pior, às vezes escondo tanto, que acabo deixando exposto.
Eu posso dizer centenas de palavras e ainda assim não serei capaz de expressar-me. Odeio pensar quando sei que chegarei a uma conclusão egoísta. Não que eu não saiba o que eu estou sentindo, só não encontrei a maneira correta de explicar sem parecer estupidamente infantil. Talvez essa parte da minha personalidade que é completamente contrária à qualquer tipo de exteriorização de sentimentos seja apenas o meu subconsciente tentando blindar-me contra julgamentos proconceituosos. Não que eu não esteja feliz, é que nem sempre tenho paciência de explicar as razões de certos desânimos que me assolam dias sim, dias não. Às vezes simplesmente parece que perdi o controle da minha própria vida.
Tanta gente me dando conselhos, como se eu de fato me importasse. Poupem-me de suas palavras vazias. O que aconteceu foi que algumas amarras foram cortadas muito abruptamente, como que por uma navalha afiada, e isso me deixou assustada. O peso está sobre os meus ombros agora. Temo que tudo isso esteja me levando a criar lacunas dentro de mim, e eu não sei como preenchê-las.
Tudo o que eu estou precisando é de algumas certezas e algumas reafirmações. Sancionar dúvidas e reconfirmar idéias, basicamente. É uma pena que essa seja a parte dolorosa.



Carta 1

Paris, 16 de Novembro de 1954 

Querido,

             Tudo está mudando. Há metamorfoses acontecendo simultaneamente com nós dois. Não é possível evitar que muita coisa se torne diferente – mais cedo ou mais tarde vai acontecer. Os motivos já nem sei; a hora já perdi; e o medo acabou-se ou talvez jamais tenha existido. Desapegue, querido. E apegue-se somente a mim.
Não ignoro o que os traços do seu rosto me contam sobre você. Mas eu também percorro outras linhas. E discorro sobre assuntos que não sei ao certo se é certo dizer. Confesso que às vezes exagero, porque perto demais deixou de ser perto o suficiente. Tento mentir o tanto teu que há em mim, mas você me preenche, querido.
São poucas a pessoas que despertam em mim o medo de perde-las. Gente muito normal não chama a minha atenção, porque com o tempo eu descubro que elas tendem a ser cansativas e idênticas. Talvez por isso há algum tempo tenho feito restrições na minha rotina. Desviando-me de tudo e todos que possam parecer irreais demais, pesados demais, difíceis demais de carregar ou suportar. E eu acabei percebendo que há uma parte na minha essência que se excede, que sobra, que passa do limite. E é essa parte que falta em você. Nós nos completamos.
Querido, você tem o sorriso de uma doçura agradável, sóbria, serena. Não há para onde correr, teu abraço é como um ímã. Eu já tinha me acostumado com os eufemismos maldosos do amor, mas você veio para remoldar os meus conceitos. Querido, só tenho uma coisa mais a dizer: não me abandone. Nunca.


De tua, sempre tua querida

O tempo

Honestamente, hoje passei o dia bem. Talvez porque acordei com uma vontade enorme de ignorar tudo o que me faz mal. Há uma lei natural que rege as coisas: ou você se acostuma e se conforma, ou você enjoa e se desespera. Simples assim.
A verdade é que vai chegar um tempo em que todos vão entender que algumas coisas são sutilmente dispensáveis. Ah, hiperbólica realidade! Admito que o inesperado pode, sim, ser surpreendente. Mas às vezes também é bom ter um plano. E esquecendo-se disso, as pessoas acabam vivendo suas vidas à base daquela irritante conjunção subordinada condicional: “se".
A gente pensa que aprende. A gente pensa que escolhe. A gente pensa que sabe... Mas eu percebi recentemente que não há nada de extraordinário acontecendo. Os tempos simplesmente se seguem e parafraseiam-se. Vivemos nesse eterno plágio atemporal sem nem sequer nos darmos conta. É que às vezes abrimos mão de tanta coisa que acabamos nos esquecendo dos motivos de ainda estar lutando.
Eu vejo o tempo passando, mas as coisas, as pessoas e as palavras continuam paradas no mesmo lugar: o passado.


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Algumas verdades sobre nós


Há uma paz latente tomando conta de mim. Todos os meus problemas e preocupações parecem distantes, como se vistos através de uma janela estreita. Tudo o que me tira a paz deixa de existir, os incômodos são esquecidos. É que um dia eu conheci alguém capaz de mudar todos os meus conceitos, sem nem ter tentado fazê-lo. Alguém que veio para colorir meu mundo preto e branco.
Preciso confessar que há tempos ultrapassei o limiar das segundas intenções. E me pego sentindo o perfume que você usa, esse seu toque à distância, o jeito que você tem de me alcançar. Artimanhas que você nem sequer percebe que tem a seu favor. Sigo detestando esse acaso que não nos encontra nunca.
Eu olho para você e vejo uma infinidade de coisas. E a principal delas é a felicidade – daquele jeito tão intenso que parece ser possível tocar se estender as mãos. O ar fica leve, os pensamentos despreocupados. Porque ao teu lado, a teoria deixa de ser meramente isso, parar ser agora uma verdade absoluta e irrevogável: eu amo você.
Às vezes ouço coisas e respondo só no pensamento – quem dera eu ter coragem de dizer. Guardo o grito na garganta. E em um boicote ao meu silêncio constrangido, a pele denuncia o que os lábios não disseram. Arrepios inconvenientes!
Sou obrigada a concordar que existem palavras que só são ditas com os olhos... e essas são, geralmente, as mais importantes. Você me ensinou que serei sempre responsável por tudo o que disser ou deixar de dizer. E eu aprendi a não viver presa na minha liberdade.
Ando com os pés no chão e a cabeça nas nuvens. Sinto uma vontade enorme de sentir o gosto do teu amor. Mas tudo o que posso fazer é ficar de caso com o acaso, esperando impaciente pelo nosso próximo encontro. E nesse momento poderei permitir que o meu mundo se acabe em um abraço infinito, que não vai durar pra sempre, só o tempo necessário para me fazer te amar ainda mais.

terça-feira, 10 de abril de 2012

O teatro da vida


Um dia acaba-se por descobrir que sorrir tornou-se inconveniente exatamente no mesmo instante em que o ser humano deixou de lado a sua humanidade. Que amar tornou-se opcional e seletivo. E que tudo o que insiste em continuar belo, mesmo ofuscado por tanta desventura, acaba sendo esquecido ao lado de trivialidades.
A verdade é que a essência dos nossos corações está manchada pela maquiagem que usamos todos os dias na intenção de esconder a verdadeira face de nossa hipocrisia. Chega um momento em que começamos a nos conformar com o que a realidade nos impõe, criando uma justificativa qualquer para viver sem peso na consciência ao lado de coisas que incomodam.
O dia-a-dia cansa. A rotina dói. Mas depois de crescer assistindo à essa peça de teatro que é a vida, nem nos damos conta de qual foi o momento em que entramos no elenco. E quando percebemos, lá estamos nós, encenando como coadjuvantes em nossas próprias existências três estrelas.
Tanta coisa não faz sentido que preferimos fingir que fazem, para poupar o árduo trabalho de usar nossas mentes. E é aí que a avalanche começa a se formar: nós aprendemos a esperar tudo dos outros e desaprendemos a "produzir" sozinhos.
Um dia acaba-se por descobrir que muita coisa simplesmente deixou de valer a pena.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Faz de conta

Ando fingindo uma porção de coisas. Talvez porque não estou com a mínima vontade de explicar o que nem eu entendo. Finjo mesmo, e assumo. Sim, existe faz de conta na vida adulta. Alguns chamariam de mentira, outros falsidade – eu, particularmente, prefiro chamar de vida: cada um cuidando da sua.
Finjo, por exemplo, que algumas coisas não incomodam; quando, na verdade, estou a ponto de explodir. O que antes era sonho, agora é rotina. E o que antes era rotina, agora é saudade. Isso me corrói.
Às vezes eu gostaria de não sentir. Deve ser mais fácil. E de tanto tentar, acabei aprendendo a maquiar o que se passa comigo. O problema é que, depois de algum tempo fingindo, as pessoas de fato começaram a acreditar que eu sou de ferro: elas se esquecem que certas coisas machucam a mim também. E o que eu faço? Simples: finjo que não ligo.

Madrugada

Acordo com frequência àquela hora da noite em que tudo parece próximo e distante ao mesmo tempo. E me vem esse querer à dois. À sós. À luz de velas. Você pode ficar com um frio enorme, mas ainda assim saber que alguém espera. Pode sentir uma ou outra coisa estranha, como uma vontade no canto da boca quando a outra boca se faz ausente.
Pude bem cedo perceber – assim acordada, com olhos meio baixos e boca meio seca – que te queria. O dia estava amanhecendo em todos os sentidos. E eu estava tomando uma decisão. E decidi que mais do que te querer, eu queria te conhecer. E você invadiu todo o meu pensamento. Tentei dormir, mas há muito acostumei-me à insônia – desbravando madrugadas: aconchegando-me na claridade da lua que entra pelas frestas minúsculas da janela; aquele brilho suave que só olhos muito acostumados com o escuro conseguem identificar.
Madrugada – hora em que precisa-se sentir um conforto, um toque de mão com uma voz sussurrada, esperando também por essa vida à dois. E quando esse dia chegar, ficaremos dopados de felicidade. Me perco lembrando de momentos que passaram e fantasiando momentos que ainda estão por vir...
Sinceramente acredito que não existe coisa mais linda que isso de duas pessoas querendo completar-se. Você pode rir e sentir. Pedir desculpas e se perdoar pelo momento atrasado ou passado do ponto. Chorar pela saudade e brigar pelo ciúme.
E então, vagando entre o sono profundo e um torpor semi-acordado, descubro que a verdade é que você conquista pelo o abraço apertado que me dá. Você me salva, você me alcança, você me faz falta.
Você.

Reticências...

Gravura de Maurits Cornelis Escher (1898-1972)


Não há motivos, só vontades. Não há coragem, só anseios. É tarde para ficar... mas ainda é cedo para partir. Aprende-se com a existência nesse mundo que a medida de errar é o erro desmedido. Mas o que poderei eu improvisar? O importante é uma vez só. Vontades, anseios e pensamentos insanos – só isso, nada mais. E eu perco tempo pensando no que fazer, para não fazer nada.
Antes era confusão. Passava a vida "proletariando” sem inspiração. Mas agora tudo o que tenho na cabeça e no coração não são suficientes para explicar. Faltam motivos, só isso. Creio que crer já deixou de ser suficiente. Porque estou falando de uma questão de escolha, não de opções. E há uma linha débil e fraca que se amarra entre o tudo e o nada. Não é poesia, nem livro, nem filme romântico, então vamos economizar reticências! Que uma coisa fique bem clara: promessas vazias eu não quero.
Eu deveria parar de dar tanta atenção a tudo o que não soube persuadir meu interesse primário. Mas aquele efeito nostálgico às avessas atravessa minhas horas vagas. Fico feliz em saber, porém, que é o futuro o nosso maior presente.
Os propósitos se esvaem. As respostas se retraem. Fica a vontade. Ficam os anseios.
Reticências...

sábado, 7 de abril de 2012

Mudança


De repente você enjoa de sabe-se-lá-o-quê. Cria seu mundo particular e vai de mudança para ele, viver sua própria história. Tantas conclusões erradas levam a isso. Tantos meios distorcidos levam a isso. Na maior parte do tempo acredito em coisas que não são, pelo simples fato de querer demais que elas sejam. Pedaços de sonhos que a gente junta na esperança de construir um novo objetivo. É, eu preciso parar de pensar. Ou, pelo menos, pensar um pouco menos – manter meus pensamentos em outro lugar.
Aquele momento na vida em que quem você era se encontra com quem você se tornou e um não reconhece mais o outro. Você acorda e percebe que se tornou um estranho para si mesmo. Tentar me trazer de volta a mim... E memórias me levam de volta à quem eu era e deixam explícito que o que nunca muda, de fato, são as mudanças. Sinto a minha falta. Mas agora já não posso mais voltar a ser eu, é tarde demais. Nada será como antes.
Às vezes penso em desistir, mas vale a pena a luta. Talvez eu nem tenha mudado realmente, só crescido.

Tempo livre

Estou tendo muito tempo livre e isso anda me estressando. Tédio é meio que o incentivo necessário para você dar uma volta pela cozinha à procura de comida. E você vai, abre a geladeira, espia lá dentro e volta a fechá-la. Nada que interesse, porque na verdade você não está com fome – só está cansada de nada.
E assim me deu uma vontade louca de escrever, mas eu não tenho nenhum assunto. E então me deu vontade de pensar, mas meu cérebro está aborrecido, não quer papo comigo. Tento dormir enquanto ouço a chuva bater na terra lá fora, mas o vento me assusta.
Sente-se aí. Feche os olhos. Respire fundo e admita que você só tem uma coisa a fazer: esperar.

Vazios


Ela entrou no apartamento e sentou-se sozinha no tapete da sala, pela primeira vez sentindo-se incomodada pelo vazio do lugar. Jogou a bolsa de lado, amontoando-a ao lado de sua dignidade. Chorou até borrar a maquiagem, depois se levantou e tirou os sapatos de salto – descendo para sua descompostura.
Querer é pouco. Ela tinha um desejo tão grande, que não cabia em nenhuma palavra já inventada pelo ser humano. Era um arrepio que subia pelo corpo vazio de tanta saudade. Ele estava fazendo uma falta tão grande que ela pensou em correr ao telefone e implorar que voltasse, mas ainda lhe restava alguma decência.
Caminhou até o quarto, esparramou-se sobre a cama que outrora não ocupava sozinha. Sentiu saudade da pele, esse labirinto onde a gente se perde sem vontade de voltar. Saudade do gosto, esse inconstante indicio do que está por vir. Saudade dos dizeres, esse maltrapilho e precário modo de demonstrar os sentimentos guardados nos recôncavos de dois corações apaixonados.
Pensamentos. Vontade de ouvir o som da campainha, ir até a porta da frente e poder dizer: “Oi. Pode entrar. Eu estava a sua espera, percebe como estou perfumada? Não precisa tirar os sapatos, nem trazer presentes, nem dizer nada. Somente sua presença já preenche mais que o suficiente. Faz até transbordar. Queira, por favor, se sentir em casa. Estou com uma vontade enorme de você, será que pode me fazer aquela maravilhosa massagem nos pés? Ótimo. Então sente-se no sofá da sala e me espere, vou buscar um vinho para nós dois. Enquanto isso vá escolhendo uma boa música para embalar esse momento. E, se puder, faça-me o obséquio de não ir embora nunca mais.” 

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Porque eu escrevo

Eu escrevo porque não sei dançar, nem cantar, nem desenhar, nem pintar, nem esculpir, nem atuar, nem descobrir e nem mesmo cozinhar. Eu escrevo porque gosto de fazer de conta. Eu escrevo porque gosto de inventar. Eu escrevo porque gosto de ser eu. Eu escrevo porque também gosto de não ser. Eu escrevo porque é divertido contar mentirinhas. Eu escrevo porque preciso dizer certas verdades. Eu escrevo porque gosto de criar. Eu escrevo porque gosto das palavras, porque as entendo e sei o que querem dizer. Eu escrevo porque posso escrever o que quiser. Eu escrevo porque preciso esvaziar o que estou sentindo. Eu escrevo porque um dia alguém há de ler. Eu escrevo porque um dia alguém há de julgar-me pelo que eu disse. Eu escrevo porque gosto de desafio. Eu escrevo porque odeio os eufemismos e antíteses da vida real. Eu escrevo porque gosto das metáforas fantasiosas da minha escrita. Eu escrevo porque escrever é muitas vezes o trabalho sujo, não importa o quão docemente se escreve. Eu escrevo porque não me importo de colocar as mãos na sujeira. Eu escrevo porque as palavras existem para serem lapidadas. Eu escrevo porque é belo e horrível. Eu escrevo porque escrever não é leviano como falar. Eu escrevo porque palavras escritas são mais necessárias. Eu escrevo porque palavras escritas são mais fáceis. Eu escrevo porque palavras ditas se perdem na memória. Eu escrevo porque tamanha responsabilidade não pode ser esquecida na gaveta. Eu escrevo porque poucos o fazem. Eu escrevo porque preciso ser entendida. Eu escrevo porque preciso ser decifrada. Eu escrevo porque o que está escrito não engana, por mais disforme que aparente ser. Eu escrevo porque ninguém me pediu para fazê-lo. Eu escrevo porque disso depende a minha autoconfiança. Eu escrevo porque escrever é desgastante. Eu escrevo porque há uma necessidade em mim de usar as palavras. Eu escrevo porque não gosto de ser aprisionada. Eu escrevo porque aprendi que as palavras precisam ser livres. Eu escrevo porque a escrita está em mim, eu apenas a transponho do pensamento para o papel. Eu escrevo porque gosto de ouvir, mas prefiro não falar. Eu escrevo porque sinto. Eu escrevo porque penso. Mas eu escrevo principalmente, porque amo e porque sei o que essa palavra quer dizer.