Jeremy era um anarquista de sofá. Não tinha uma aparência
excêntrica, não pichava muros, não pregava a desordem e nem lia Kropotkin.
No auge de seus vinte e três anos, morava sozinho em um apartamento
desorganizado cujo aluguel vivia atrasado. Tinha um carro de segunda mão e
trabalhava em um emprego que, no fim do mês, lhe rendia uma quantia miserável
que mal dava para pagar as contas e a mensalidade da faculdade. Mas, ainda
assim, havia muito sangue revolucionário correndo por suas veias quase
diabéticas.
Jeremy tinha ideias. Sonhos. Ambições.
Só que em meio à tamanha correria diária, tanto
bombardeio de informação, tanto consumismo desnecessário e tanto barulho de
gente existindo e esquecendo-se de viver; Jeremy desistiu de tentar. E aquele
rapaz que nascera para mudar o mundo, não conseguia nem sequer mudar de vida.
Nascem gênios todos os dias.
E todos os dias, gênios são mortos.