sábado, 7 de abril de 2012

Vazios


Ela entrou no apartamento e sentou-se sozinha no tapete da sala, pela primeira vez sentindo-se incomodada pelo vazio do lugar. Jogou a bolsa de lado, amontoando-a ao lado de sua dignidade. Chorou até borrar a maquiagem, depois se levantou e tirou os sapatos de salto – descendo para sua descompostura.
Querer é pouco. Ela tinha um desejo tão grande, que não cabia em nenhuma palavra já inventada pelo ser humano. Era um arrepio que subia pelo corpo vazio de tanta saudade. Ele estava fazendo uma falta tão grande que ela pensou em correr ao telefone e implorar que voltasse, mas ainda lhe restava alguma decência.
Caminhou até o quarto, esparramou-se sobre a cama que outrora não ocupava sozinha. Sentiu saudade da pele, esse labirinto onde a gente se perde sem vontade de voltar. Saudade do gosto, esse inconstante indicio do que está por vir. Saudade dos dizeres, esse maltrapilho e precário modo de demonstrar os sentimentos guardados nos recôncavos de dois corações apaixonados.
Pensamentos. Vontade de ouvir o som da campainha, ir até a porta da frente e poder dizer: “Oi. Pode entrar. Eu estava a sua espera, percebe como estou perfumada? Não precisa tirar os sapatos, nem trazer presentes, nem dizer nada. Somente sua presença já preenche mais que o suficiente. Faz até transbordar. Queira, por favor, se sentir em casa. Estou com uma vontade enorme de você, será que pode me fazer aquela maravilhosa massagem nos pés? Ótimo. Então sente-se no sofá da sala e me espere, vou buscar um vinho para nós dois. Enquanto isso vá escolhendo uma boa música para embalar esse momento. E, se puder, faça-me o obséquio de não ir embora nunca mais.” 

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