
Ela entrou no
apartamento e sentou-se sozinha no tapete da sala, pela primeira vez
sentindo-se incomodada pelo vazio do lugar. Jogou a bolsa de lado, amontoando-a
ao lado de sua dignidade. Chorou até borrar a maquiagem, depois se levantou e
tirou os sapatos de salto – descendo para sua descompostura.
Querer é pouco. Ela
tinha um desejo tão grande, que não cabia em nenhuma palavra já inventada pelo
ser humano. Era um arrepio que subia pelo corpo vazio de tanta saudade. Ele
estava fazendo uma falta tão grande que ela pensou em correr ao telefone e
implorar que voltasse, mas ainda lhe restava alguma decência.
Caminhou até o
quarto, esparramou-se sobre a cama que outrora não ocupava sozinha. Sentiu
saudade da pele, esse labirinto onde a gente se perde sem vontade de
voltar. Saudade do gosto, esse inconstante indicio do que está por vir. Saudade
dos dizeres, esse maltrapilho e precário modo de demonstrar os sentimentos
guardados nos recôncavos de dois corações apaixonados.
Pensamentos.
Vontade de ouvir o som da campainha, ir até a porta da frente e poder dizer:
“Oi. Pode entrar. Eu estava a sua espera, percebe como estou perfumada? Não
precisa tirar os sapatos, nem trazer presentes, nem dizer nada. Somente sua
presença já preenche mais que o suficiente. Faz até transbordar. Queira, por
favor, se sentir em casa. Estou com uma vontade enorme de você, será que pode
me fazer aquela maravilhosa massagem nos pés? Ótimo. Então sente-se no sofá da
sala e me espere, vou buscar um vinho para nós dois. Enquanto isso vá
escolhendo uma boa música para embalar esse momento. E, se puder, faça-me o
obséquio de não ir embora nunca mais.”
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