Eu xinguei terrivelmente durante quinze longos minutos. E
gritei a plenos pulmões pra que você abrisse a porra da porta. Mas a resposta
que obtive veio do vizinho: dizendo que iria chamar a polícia se eu não desse
meia volta e retornasse quando alguém estivesse em casa. Ok, confesso que não
tinha pensado na possibilidade de você ter passado a noite fora. É que o meu cérebro
não funciona muito bem depois das três ou quatro da manhã.
Eu só desejava que você risse do meu estado, abrindo a
porta pra dizer que sou um cretino. Mas você nem isso se dispôs a fazer! Seu apartamento
vazio me dava a impressão de que vazio também era meu coração. Então saí de
volta para a rua, onde uma chuva fina e gelada me deixou ensopado até os ossos.
Só que eu não me importava mais com isso, nem com qualquer outra coisa com que
me importei na vida. Talvez fosse efeito do álcool; mas o que me fazia
cambalear era o arrependimento, e a visão turva pelas lágrimas que me saltavam
incessantemente dos olhos.
Eu nem me lembrava onde é que tinha estacionado o meu
carro. Saí andando sem rumo, sem encontrar nem sequer uma cafeteria barata para
curar a ressaca com uma xícara de café quente. Então me sentei na calçada, a
umas três ou quatro quadras do seu apartamento, e me dei o direito de chorar e
sentir vergonha da minha hipocrisia.
E eu lembrei de nossos momentos felizes juntos, sentindo
o peso da minha traição sendo arremessado sobre meus ombros de uma só vez. E me
odiei tanto por ter levado aquela vadia pra casa depois de algumas doses, que
pensei que fosse morrer ali na rua, tamanho era meu arrependimento. Era fim de festa, já não havia muita opção. Pra ser bem sincero, ela nem era
tão bonita, em nada chamava a atenção: e foi tão fácil! Não precisei de muito mais que meia hora de conversa. Acontece que eu precisava provar para meus amigos, ali reunidos, que ainda era bom nisso. E sou! Mas, pra ser sincero, nada disso faz diferença. É, me chame de infantil, eu vou entender.
Eu sei que algumas pessoas sabem ser discretas com essas
coisas, mas na primeira vez em que eu piso fora da linha, sou descoberto. E agora
você sabe que eu sou o cara mais sujo que você conhece. Você e, é claro, aquele
seu vizinho porco e mal-educado que me expulsou do prédio!
Nem sei quanto tempo passou, eu só estava preocupado com
você. Talvez estivesse sendo consolada por uma amiga, talvez tivesse saído com
seu melhor vestido a procura de vingança ou talvez estivesse vagando por aí,
sem saber como dar o próximo passo. Eu merecia mesmo o seu desprezo, você – mais uma vez! – estava certa.
O problema de admitir o erro é que acabamos vulneráveis,
porque aceitamos qualquer que seja a sentença. Tô dizendo, isso é fato. Naquele
momento, eu queria que a vida me desse poucas coisas. A primeira e mais
importante, era uma segunda chance sua. Acho que eu deveria ir dormir, mas nem sequer
sabia onde estava! Ah, é, isso já não fazia a menor diferença. E essa porcaria
de camisa, onde foi que rasguei?
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