Rio de Janeiro, 10 de Setembro de 2012
Querido ex-amor,
É
uma pena. É realmente uma lástima que você não esteja aqui para ver. Sim, eu
queria que estivesse. Sei que parece irônico. Só que falo sério. Tenho uma
enorme vontade de mostrar o quanto a solidão me fez bem. Pode ser que eu esteja
sendo dramática ou exagerada
– ou qualquer outro dos defeitos que você gostava tanto de
apontar –, mas talvez a sua ausência tenha sido uma das melhores coisas que me aconteceu.
Mas
deixemos as acusações e passemos às novidades.
Venho
contar que pintei aquela parede de azul, como você vivia insistindo pra fazer.
À tarde, quando o sol bate, é como estar dentro do céu. Nisso você tinha razão,
a sala ficou mais alegre. Eu também fiquei, desde que você foi embora. Como
pude acreditar que era sua presença que me fazia feliz? Acho que você me sufocou e eu
parei de pensar, só pode ter sido isso.
Escrevo
coisas sobre nós dois. E a cada folha amassada que atiro na lixeira, transformo
mais um sonho antigo numa mera lembrança distante.
Joguei
fora aqueles filmes que você odiava tanto. Parei de assisti-los porque já os
sei de cor. E da tua fala ensaiada também me lembro. Não me saem da cabeça
todas as suas críticas infundadas, estragando a genialidade dos meus atores
favoritos. Vou mudar de gostos! E, admito, você tinha razão outra vez.
Cansei
das músicas também. E dos livros. Joguei fora tudo o que era seu. Em nome da sua ausência, resolvi preencher
minha casa comigo mesma. E com as coisas que você não gostava; e com o que
discordávamos; e com as minhas preferências. Até mudei a mobília de lugar! Você
estava certo, já era hora de repaginar um pouco o lugar.
Parei com o
sentimentalismo. Me desfiz de coisas velhas e das opiniões ultrapassadas.
Comprei uma planta pra colocar no corredor, naquele cantinho onde você
costumava largar os sapatos quando voltava da rua. Lembra? Discutíamos muito
por causa disso; às vezes por coisas menores. E cinco minutos depois, mesmo
tendo esquecido os motivos da discordância, continuávamos irritados um com o
outro. Era quase um ritual. Você sempre acertou quando dizia que eu implicava
simplesmente por implicar. De fato, era o único jeito de chamar sua atenção.
Também parei de
fumar. E diminuí a cafeína. Comprei um peixe, a quem dei o seu nome. Mas ele só
gosta de mim quando ou o alimento. Exatamente como você fazia; amava-me somente
quando lhe era conveniente. Por onde andei, que não percebi isso antes? Acho
que você me cegou.
Estou me
exercitando mais e comendo corretamente. Até criei o hábito de correr na orla da praia, observando o sol se por à distância, no mar. Você sempre disse que eu deveria ser
mais saudável. E agradeço-o por isso. Me sinto bem melhor agora. Respiro melhor
sem o cigarro; me movimento melhor sem o fast-food;
vivo melhor sem você.
Mudei o visual.
Fiz um corte de cabelo mais moderno, troquei os óculos por lentes e me
presenteei com roupas novas. Lembra quando você dizia que eu deveria cuidar
mais de mim? Estou fazendo isso, agora que não preciso mais gastar meu tempo
com você. Você tinha razão naquelas raras vezes que se esquecia um pouco do seu
narcisismo e se atrevia a observar-me.
Basicamente,
gastei todas essas palavras para contar-lhe que você, de fato, tinha mesmo toda
a razão. Nunca fomos feitos um para o outro. Acho bem provável que essa tenha
sido a coisa mais sensata que você disse. Talvez porque, na verdade, você nunca
tenha merecido o amor que eu te dei.
Com sinceros
votos de uma bem vida feliz, bem bonita e bem distante de mim,
despeço-me pela última vez.
Carinhosamente,
Carinhosamente,
Tua ex-apaixonada
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