Fiquei engasgada com a
quantidade de coisas que quis dizer: todas elas se juntaram de uma vez em minha
garganta, e acabei por não dizer nenhuma. Engoli-as junto à bebida gelada,
depois acenei com a cabeça, pra não ser denunciada por minha voz esganiçada de
quem comeu e quis cuspir. Tudo isso levou a uma variedade colorida de rancores,
porque acho um grande nojo ter que recolher as migalhas do que um dia senti pra
tentar reconstruir coisas para as quais já não dou a mínima. Dando de ombros,
sigo em frente.
O fato é que avizinha-se uma falência
múltipla das minhas emoção; e eu já não sei se as resultantes são contra ou a
favor das decisões que tomei anteriormente. Quero salientar que tenho sobre as
costas algumas incoerências e um gélido silêncio, que vem das minhas
desconfianças fantasiosas.
É quase um fracasso ter que
admitir que não perco nada em deixar a vida tomar os rumos que bem entender. Quero
que o arrependimento, esse sentimento enfadonho e pestilento, jamais tome
sequer um instante de mim. E que cada batimento cardíaco inspire em mim um novo
desafio. Respiro um alívio formidável, tão somente por saber que preferi dar
voz à melodiosa canção tamborilante do meu coração, em detrimento dos
descompassos da razão.
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