Deixou a janela aberta para abrandar o calor, apagou as
luzes e depois deitou-se ao lado dela. Respirou fundo e sentiu o cheiro de seus
cabelos, vendo lembranças de outros tempos rodopiando por sua mente. Esticou o
braço devagar para tocar aqueles belíssimos cachos cor de mel. Mas como um
felino, ela se moveu, levando-os para longe. Ele recolheu a mão, sem insistir,
e virou-se de costas para ela.
Ficou acordado tempo o suficiente para ouvi-la respirando
compassadamente, feito uma criança. Invejou a capacidade que tinha aquela
mulher: não sentia o peso da consciência afundando o travesseiro. Esse sentimento
tomou-lhe horas. Ele tinha se cansado dessa coisa horrível que ela se tornara –
e foi com esse pensamento que adormeceu.
Amou-a por muito tempo, seu coração à ela um dia
pertenceu. Mas acordou no dia seguinte com a claridade entrando pela janela,
sem amar mais. Levantou-se silencioso, pegou algumas roupas no guarda-roupa, a
escova de dente no banheiro, e colocou dentro da mala – tudo espremido ao lado
das lembranças de um sentimento que acabou. E por último, meio que como um
desfecho dramático, voltou para dar uma última olhada na dona dos cachos cor de
mel.
– Já vai? – perguntou ela, com voz sonolenta e sem abrir
os olhos.
– Vou.
– Feche a janela, por favor – pediu com frieza – E deixe
a chave embaixo do tapete.
Ele assim fez. E quando ouviu a porta da frente se
fechar, ela percebeu a falta que ele fazia. Pela primeira vez na vida: chorou
de saudade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário