segunda-feira, 4 de junho de 2012

Coração fechado; janela aberta



Deixou a janela aberta para abrandar o calor, apagou as luzes e depois deitou-se ao lado dela. Respirou fundo e sentiu o cheiro de seus cabelos, vendo lembranças de outros tempos rodopiando por sua mente. Esticou o braço devagar para tocar aqueles belíssimos cachos cor de mel. Mas como um felino, ela se moveu, levando-os para longe. Ele recolheu a mão, sem insistir, e virou-se de costas para ela.
Ficou acordado tempo o suficiente para ouvi-la respirando compassadamente, feito uma criança. Invejou a capacidade que tinha aquela mulher: não sentia o peso da consciência afundando o travesseiro. Esse sentimento tomou-lhe horas. Ele tinha se cansado dessa coisa horrível que ela se tornara – e foi com esse pensamento que adormeceu.
Amou-a por muito tempo, seu coração à ela um dia pertenceu. Mas acordou no dia seguinte com a claridade entrando pela janela, sem amar mais. Levantou-se silencioso, pegou algumas roupas no guarda-roupa, a escova de dente no banheiro, e colocou dentro da mala – tudo espremido ao lado das lembranças de um sentimento que acabou. E por último, meio que como um desfecho dramático, voltou para dar uma última olhada na dona dos cachos cor de mel.
– Já vai? – perguntou ela, com voz sonolenta e sem abrir os olhos.
– Vou.
– Feche a janela, por favor – pediu com frieza – E deixe a chave embaixo do tapete.
Ele assim fez. E quando ouviu a porta da frente se fechar, ela percebeu a falta que ele fazia. Pela primeira vez na vida: chorou de saudade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário