Guardei um amor. Tão bem guardado, que acabei perdendo. Como
um porta-retrato velho, que já não serve a seu propósito, mas passa as horas
esquecido dentro de uma gaveta, para empoeirar-se com lembranças que ficaram
velhas demais para serem lembradas. Então as coisas saíram do controle quando eu
olhei para você por apenas um segundo que foi tempo suficiente pra me apaixonar
quinze vezes ou mais. Passei o segundo seguinte odiando a sua tão perfeita
imperfeição. E no restante do dia, notei-me como quem acha um porta retrato
poeirento na gaveta e quer devolvê-lo: mas já não consegue, porque acaba de
decidir que a fotografia merecia ser vista. Quisera eu, sonhadora e melancólica
numa tardezinha cinzenta de chuva e lúgubre de monotonia, presentear-lhe com
meu amor recém-encontrado.
Perdi a hora e a fome. Como eu quis te chamar pra me amar
enquanto o tempo decolava para longe e a comida tinha um gosto, mas não era gosto
de você! Depois me vi abatida, entre um estado de serena descoberta e tristonha
realidade: não sei teu gosto, só sei teu rosto – e isso tem sido o suficiente
para povoar meus sonhos. Entorpecida por um ou dois sorrisos teus, gasto as
horas entre abdicações e devaneios, quimeras altivas e desejos abastados de
outro olhar seu; um desses que poderei fazer de conta ser meu, só pra meu encanto.
Guardei um amor; e o perdi. E você o encontrou, ainda que
sem procurar, em meio a um emaranhado de emoções. Antes que os nós se desatem, porém,
gostaria que nós nos atássemos um ao outro pra não soltar nunca mais.
(Como o texto foi inspirado na música "Pra você guardei o amor", achei justo que este fosse batizado com o mesmo nome! E viva o poeta Nando Reis!)
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