quarta-feira, 18 de julho de 2012

Edmundo e Janice



Quando Janice conheceu Edmundo, logo se apaixonou. Ele era um mistério cínico e rude, desse tipo cafajeste intelectual. Tinha uma mente brilhante e falava com os olhos – porque com a boca, sinceramente, só dizia impropérios. Era difícil traduzir todas aquelas expressões horrorosas e grosseiras em palavras de afeto, mas Janice já se acostumara. Até mesmo o “eu te amo” daquele homem soava como um xingamento. Ele não fazia por mal. Também não fumava por mal. Nem bebia por mal. Nem lia livros ruins por mal. Na verdade, amava todas essas coisas simplesmente porque as amava – sem nenhum outro motivo aparente. E ele amava Janice.
Mas, antes de qualquer outra coisa, Edmundo amava ser livre. E Janice sabia que um dia ele sairia por aquela porta para comprar mais um maço de seus cigarros baratos e não voltaria nunca mais. Talvez por compensação, queria aproveitar cada segundo junto dele e fazer intenso todos os momentos. Mais cedo ou mais tarde, ele iria deixá-la – não havia tempo a perder, não havia o que temer, não havia como evitar.
Numa tarde qualquer, Edmundo marcou um encontro com Janice num Café decadente que ficava entre uma loja de livros usados e uma lavanderia falida. Ela chegou desfilando seu andar majestoso e seu batom vermelho, sentou-se diante dele e sorriu um sorriso acanhado. Os dois se olharam, se amaram em silêncio e depois conversaram sobre bobagens.
Era fim de tarde quando voltaram para casa de taxi. E naquela noite, Janice dormiu acariciando os cabelos compridos de Edmundo. Ele não dormiu. Ouvia aquela belíssima mulher respirar devagar, sentindo seu corpo tão perto, suas mãos tão macias. Como é possível eternizar um momento? Será que existe alguma maneira? Ele não podia mais aguentar.
Esgueirou-se para fora da cama tão silenciosamente quanto um felino. Apanhou as roupas amarrotadas no chão e as vestiu sem nenhum barulho. Deu uma última olhada em Janice e terminou de decidir que, de fato, ele não a merecia.
“Adeus”, sussurrou. Pegou as chaves, abriu a porta e foi embora esperando que ela não o odiasse ao acordar. 

2 comentários:

  1. De fato alguns homens não dão valor no que tem...
    Gostei muito!!
    Homem de verdade não faz uma mulher sofrer,chorar ou humilha ela. homens de verdade conquista uma mulher e a ama de todas as maneiras. No caso dele, ele só não queria maguala mais.Umas historia triste. Mas perfeita!!.

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    1. Obrigada pelo comentário ;)
      Que bom que gostou!

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