quinta-feira, 24 de julho de 2014

Porre

Tomou um banho quente pra tirar a noite da memória. Despiu-se das roupas que cheiravam a álcool, nicotina e derrota. Estava consciente, porém, que este último cheiro não iria embora com a água. Desapareceria, quem sabe, com um novo porre.
Ali mesmo, no banheiro, chorou novamente até que a cabeça doesse. Depois foi pego por mais uma crise daquela tosse arrastada, que há dois dias aparecia de repente. Uma dessas tosses insistentes que não vão embora nem com xarope, nem com pílulas, nem com xingamentos (em doses bem mais fartas que os dois primeiros). Aproveitou a irritação para exteriorizar a raiva, tossindo como se, ao fazê-lo, pudesse obrigar o universo inteiro a notar a sua tristeza e irritação.
Concluiu, depois de tudo, que seu porre não era de álcool. Estava com ressaca de si mesmo. Tornou-se, ele mesmo, um monstro: depois de tanto tentar combatê-los.


Um comentário:

  1. Excelente, Larissa!! Baita conflito interno...e bem comum, diga-se de passagem...rsrs...

    Abraço!

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