domingo, 13 de maio de 2012

Decreto da Felicidade


Que se torne lei a proibição de amar pela metade. Que o mundo entenda essa verdade: está decretado o fim da maldade e de tudo o que não fizer o bem. Fica condenado à pena de morte todo aquele que não aprender a pedir perdão, e também os que se esqueceram de como perdoar. Prisão perpétua para os que não tem paciência para escutar, para os que desistiram de tentar, e para os que se negam a amar. 
A partir de hoje, o ser humano tem direito real à liberdade. E que ninguém, em nenhuma circunstância, seja privado de sonhar. Sejam soltos de seus cárceres particulares, todos os corações entristecidos. E que a felicidade se espalhe sobre a Terra.
Injeções de coragem gratuitas aos desanimados. Abrigo e carinho aos desamparados. E muitos, muitos, muitos desejos realizados. Que os corações se encham de fraternidade, fica decretado o fim da inimizade! Que as diferenças tornem-se apenas motivo de admiração. Que a beleza seja vista na miscigenação. Serão julgados apenas os que não cumprirem essa ordem: ergam-se e saiam por aí, transformando o mundo para melhor. 
Fica decretado o fim da intolerância. Está proibido o uso da arrogância. Que os humanos se tratem como iguais, que vivam em paz e que entendam-se mais. 
Esse decreto vale a partir de agora. Que seu cumprimento seja instituído mundo à fora.
Fica decretada a felicidade.


sábado, 12 de maio de 2012

Ouça-me

Quando eu falar, não ignore. Quando eu tocar-te, sita-me. É o meu silêncio que eu quero que escute. Quanto ao meu barulho, imploro que entenda. É insuficiente para mim que simplesmente chegue, construa uma impressão qualquer e depois vá embora sem conhecer-me.
O que eu disser, nem sempre é o que espero que você creia. Minhas palavras, miseráveis e desequilibradas, costumam ter duas faces. Desfaça-as. Depois reajuste ordenadamente tudo o que eu houver dito, para enfim entender a verdade egrégia: a complexidade que existe em mim jamais será explicada.
Aniquile essa distância, transponha barreiras e venha encontrar-me. Continuo nessa inércia inquebrável, esperando por teu alento. Decifra-me.  Desembarace os meus sentimentos e os explique para mim, por favor. Eu quero que todo esse emaranhado aqui dentro seja decodificado. Cale-se e observe-me: aqui estou para ser encontrada. Descubra o meu ritmo e valse ao meu lado antes que se acabe a noite e esvazie-se o salão.


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Segundas Chances


Dias inteiros, meias verdades. Era uma solidão tão grande, que não ela se sentia sozinha - a companhia se chamava saudade. No silêncio da noite, chorava. No escuro do quarto, soluçava. Trazia na memória imagens distorcidas. De sorrisos passados, de felicidades de outrora, de alguém que tinha mania de ofuscar a realidade. Barulho de lágrimas caindo sobre o travesseiro e sussurros sutis de um nome que ela sentia vontade de gritar para o mundo e esperar que o universo trouxesse o convocado pra bem perto. E pedi-lo que se sentasse bem perto, deixando o mundo lá fora, sem se importar com a hora de ir embora. 
"Talvez eu devesse me dar uma chance", pensava, às tantas horas da madrugada. Se redimir de alguma maneira: era o que queria. Quem sabe deixar um bilhete embaixo da porta, com qualquer caligrafia torta, como pedido de perdão. Tocar a campainha e correr - quem nunca fez isso antes? O motivo era nobre. Mas é que às vezes simplesmente não se encontra motivos para pedir perdão - por serem  demasiadamente insignificantes ou exagerados ao extremo. Pobre mulher, nem sequer tinha certeza de suas incertezas. Faltava-lhe fé. Arrancaram-lhe a esperança.
Um vento frio entrava pela janela, trazendo o presságio de que o fim, de fato, chegara. E ela sentia falta daquele abraço quente que não ganhara. Derramava suas tristezas, precisando de carinho. Mas só o que encontrava era seu sentimento mais mesquinho: vontade de ter de volta aquele que tinha perdido - de preferência, imediatamente.


Eu, assim

Eu vi
Eu vendo;
eu vivendo.
Entrelinhas entre as linhas -
sobrevivência sob vivências:
Prenúncios do fim,
anúncios de mim
Que sou assim: nervos de aço
e sentimentos de cetim.
Palavras minhas soltas - 
Tudo o que a fala
incontida, não se cala;
e fica para a eternidade
à mercê de minha vontade
E vaidade.
Ah, saudade...

Bonito


O tempo passou tão veloz que mal pude percebê-lo. Nem vi você chegar, aconteceu que simplesmente me dei conta de que você estava aqui o tempo todo. As coisas foram acontecendo, se estabelecendo, tornando-se parte de nós. Quando dei por mim, éramos você e eu: nos amando. Admito que ultimamente ando com uma enorme abstinência de você. É difícil viver sem a tua presença. Essa distância que nos separa faz aumentar vontades absurdas em mim. E me pego escrevendo pra aliviar um pouco toda essa falta que você me faz. Não consigo me acostumar com a sua quase constante ausência. Eu só espero sinceramente que algum dia desses, numa noite dessas – num cantinho desses, só nosso –,  possamos estar juntos. E assim permanecer até que morra a minha saudade. Eu me pergunto: quão bonito pode chegar a ser um sentimento? Um sentimento assim, como o nosso? Mais bonito que o pôr-do-sol na praia. Mais bonito que o arco-íris depois da tempestade. Mais bonito que o céu estrelado na fazenda. Mais bonito que a lua cheia quando nasce. Mais bonito que o sorriso sincero de uma criança.
Mais bonito que as palavras podem explicar... 

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Conte-me



Alguma vez na vida você já se sentiu indo para o caminho errado? Como se, ao tentar acertar, acabasse se esquecendo do que realmente tem algum valor? Como se aos poucos estivesse se tornando um mero espectador da própria vida, inerte diante da iminência do fracasso? Você já observou sua história fugir do controle sem poder reagir?
Algum dia você já teve a impressão de estar tão escondido de si mesmo ao extremo de não conseguir sequer explicar o motivo de uma lágrima? Você já passou pela experiência de olhar-se no espelho encarar aquela expressão vazia e cansada de não ver mudanças? Como se estivesse errando há um longo tempo e só percebesse isso depois de tudo desmoronado? Como se a única alternativa fosse esperar que as coisas dessem certo, mesmo estando consciente de que são mínimas as chances de isso acontecer?
Alguma vez você já sentiu tanto medo a ponto de congelar? Medo de não ser capaz, medo de não conseguir, medo de não estar preparado? Como se a cada segundo os rumos de sua vida lhe escapassem pelas mãos e você fosse constantemente induzido a acreditar que o fundo do poço está logo abaixo, ansiosamente aguardado um novo inquilino? Como se os sonhos parecessem distantes, os objetivos distorcidos e os desejos irrealizáveis?
Algum dia você já chegou a acreditar que a única solução para os problemas fosse varrer o passado e começar agora a recriar o futuro? Como se você de repente descobrisse que tem feito tanta coisa errada que só um recomeço seria capaz de amenizar as suas tristezas?
Conte-me: quantas vezes na vida você já sentiu o peso da culpa sobre seus ombros?


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Constâncias


Nunca houve nada  certo.
Constantes mudanças são assim!
Não encontro respostas em mim
para explicar meias verdades;
 
Fantasias que criei
dos sussurros, dos boatos.
Sei, agora, tanta coisa
Mal posso encarar os fatos:
surgiu de repente...
há tempos estabeleceu-se; e preciso confessar
que percebo o que a gente sente.
Sonhando juntos, vamos crescendo;
vivendo, refazendo, aprendendo.

É você quem me toca com palavras
e me traduz ao causar arrepios;
São nossos corpos vazios
que nos mantém tão próximos.
Para podermos nos encher e nos fazer viver
o amor que há em nós.

Meu eu inteiro clama por ti
Tudo o que preciso, querido, é você.
Aqui.



Levante-se, menina, erga a cabeça



Levante-se, menina, erga a cabeça. Francamente, não me interessa o que você tem a dizer. Pode tentar o que quiser, não me convencerá. Não está certo ficarmos aqui esperando que o vento faça um sonho bom entrar pela janela. Cansei de lamentações inúteis – acostume-se e aceite a verdade: acabou.
Levante-se, menina, erga a cabeça. O dia de amanhã não vai trazer novidades, não tem essa obrigação. O mundo está lá fora sentindo a sua falta, mas ele não espera: segue em frente sozinho, sem a tua companhia. Saiba que a vida não vai parar porque você parou.
Levante-se, menina, erga a cabeça. Vamos, coloque um sorriso nesse rosto cansado. Seu silêncio está me dizendo muita coisa que não gosto de ouvir. E suas lágrimas magoadas há tempos já vinham sendo ignoradas. Encare o fato de que as promessas foram quebradas.
Levante-se, menina, erga a cabeça. Recostitua os seus sonhos despedaçados uma vez mais. Não é fácil arrancar da memória toda aquela felicidade. Mas ainda há motivos para continuar, a batalha final está por vir.
Levante-se, menina, erga a cabeça. E faça o favor de parar de perder tempo com tudo o que perdeu você.

Vontades

Ando com uma sede insaciável por aventura. Vontade de sair por aí e, sei lá, viver um pouco. Sentir o vento nos cabelos, brincar na chuva e fazer coro com os passarinhos. Quero me lançar por estradas desconhecidas e desbravar novos caminhos. Quero mudar algumas histórias e inventar outros destinos. Quero sorrir, quero chorar, quero ser feliz – isso me basta.
Estou mesmo precisando de novidades. Acho que está na hora de deixar a rotina de lado, sair um pouco dessa monotonia toda, quebrar os velhos hábitos e estabelecer horizontes diferentes. Quero cheiros, quero abraços, quero experiências, quero gostos, quero sons, quero excentricidades, quero barulho, quero silêncio, quero gente, quero o mundo. Vontade enorme que estou de fazer tudo diferente!
A verdade é que as escolhas certas nem sempre são as aparentemente sensatas. Os planos têm falhas, os projetos dão errado – nada como viver sem roteiro, escrevendo cada linha conforme o improviso dá certo. Vou confessar que o imprevisível me atrai. Muito.
Estou com vontade de inovar. Tanta coisa bonita que ainda não senti, tantas pessoas que não conheci, tantos lugares que não visitei... Ah, eu quero mesmo é sair por aí e sentir o sol, conhecer o mundo e passear no brilho das estrelas. De repente me deu um desejo insaciável de fazer alguma coisa inconsequente. Uma maluquice às vezes vai bem! Saudade do tempo em que querer e poder eram a mesma coisa...
Chega um momento em que a gente simplesmente quer poder se gabar um pouco do fato de ter conseguido. Mas, conseguido o quê? Não sei. Talvez... ser feliz.


terça-feira, 1 de maio de 2012

Quereres


Denuncie o que há de mim em você. Vamos, seja corajoso. Mostre suas marcas! Eu duvido que você tenha essa audácia. Macule minha reputação, eu não me importo. Diga ao mundo o que você diz para mim. Solte essas palavras contidas em você, esses desejos, esses anseios, essas vontades. Não, você não é capaz. Será que conseguiria? Descontrole-se! Uma vez só, por favor, perca a razão. Eu quero mais é que você grite, que me ligue no meio da noite dizendo impropérios, que perca o juízo, que me beije calorosamente, que me abrace com toda a sua força, que me revele os seus sonhos mais absurdos. E, acredite, eu vou realizá-los.
Amado, pare de fazer de conta. Posso ver em sua expressão que já se rendeu. E eu, que nem sabia ter tantos encantos, acabei por usá-los a meu favor. Desista, eu venci. Olhe nos meus olhos, pare de bancar o bom rapaz e aceite esse fato. Eu sei o que se passa na tua cabeça, meu amor, te tenho em minhas mãos. Você acredita mesmo que poderia não ter sido derrotado? Ah, quase inocente. Também tenho minhas armas, como você pode perceber. Eu já aprendi a interpretar-te, entendo exatamente o que você pretende fazer. Seu jeito calculista pode enganar a todos, não a mim. Sua trama planejada não me afeta. Seu sorriso presunçoso depõe contra você. Só te peço que tenha força, porque é em você que busco meu alento. Você me faz sentir coisas novas que não sei explicar; e talvez por isso tem de mim o que quer, sempre. E eu, aqui sozinha, só quero você.
Quantas reviravoltas! Quem poderia supor tal delírio? Essa felicidade não cabe em mim; transborda em você. Estamos apaixonados: cegos, surdos, mudos de amor. O acaso atormenta, o descaso nos faz rir - acho que há muita coisa ao contrário... e essa é a beleza de tudo isso. Pra ser bem sincera, amado, ainda quero ouvir as palavras que você insiste em não proferir. Porque minhas suposições serão comprovadas e eu poderei dizer que estava certa o tempo todo.